Um ano de perdas, aprendizados e 20 álbuns de 2025.
Escrevo isso com um ventilador a 8cm do meu rosto, definitivamente não é o melhor fim de ano da minha vida. Um ano de perdas irreparáveis que ainda doem, todo dia. É incrível como nunca estamos prontos para perder. Por mais que a gente saiba que nada é para sempre, quando o fim chega, nunca é a hora. Passei esses últimos meses tentando entender o luto. Ele chega nas horas mais inesperadas: no meio de um almoço, enquanto assisto a um jogo, lendo uma notícia, no cheiro de um café, na risada da minha irmã, naquele segundo antes de dormir quando a mente ainda não desligou. E então você se lembra, com uma nitidez brutal, que algumas ausências são permanentes.
O mais estranho foi perceber que o mundo não parou. A vida continuou acontecendo ao redor, indiferente, como se nada tivesse mudado. Pessoas rindo, trabalhando, fazendo planos. E você ali, tentando entender como tudo pode seguir em frente quando parece que deveria ter parado. No começo, até sorrir de volta parecia errado, como se fosse trair a dor. Mas aos poucos você percebe que seguir é o único caminho possível, mesmo sendo difícil. A gente passa a vida aprendendo a construir coisas, mas ninguém nos ensina a lidar com o que desmorona.
As pessoas dizem que o tempo cura, mas eu acho que o tempo só nos ensina a conviver com cicatrizes que nunca fecham completamente. Esse ano me forçou a confrontar verdades desconfortáveis sobre a fragilidade de tudo. Sobre a ilusão de segurança que criamos, achando que nossa rotina nos protege do imprevisível, até percebermos que nada resiste à passagem inevitável do tempo nem à imprevisibilidade das coisas. Sobre como somos ingênuos ao planejar futuros distantes, como se tivéssemos garantia de que estaremos aqui para vivê-los.
Aprendi sobre mudança. Sobre como as pessoas que a gente conhece hoje não são exatamente as mesmas de ontem e não serão as mesmas amanhã. As pessoas se refazem, mudam de ideia, mudam de vida. E cobrar que elas permaneçam iguais ao que guardamos na lembrança é injusto com elas e cansativo para nós. Estou trocando a expectativa pela aceitação. Entender que as conexões se transformam, e às vezes terminam, é a forma mais honesta de manter o carinho pelo que vivemos, sem o peso de tentar reviver o que já passou.
E ainda assim, aqui estou.
Não sei se 2026 será melhor. Não sei se essa dor vai diminuir ou se apenas vou aprender a carregá-la com mais leveza. O que sei é que perder me ensinou algo sobre estar presente, sobre não adiar abraços, sobre dizer coisas importantes enquanto ainda há tempo. Estou aprendendo a estar sozinho sem me sentir só. Descobri que é uma habilidade incrível sentir a presença dos que já não fazem parte da nossa vida, é tipo ressignificar uma música, um hábito e aceitar calado que isso ainda é belo e prazeroso.
Às vezes a gente só percebe o tamanho do vazio quando tenta preenchê-lo com qualquer coisa que não seja silêncio, e foi assim que aprendi que algumas ausências pedem para ser sentidas, não substituídas. Me preocupo menos com o que os outros esperam de mim e mais com o que eu realmente quero sentir e viver. Estou me abrindo, permitindo que novas conexões aconteçam, porque se há uma coisa que esse ano me ensinou é que o tempo que temos com as pessoas é curto demais para ser desperdiçado com muros e distâncias desnecessárias.
Olhando para trás, sei que esse ano teria sido insuportável se não fossem algumas pessoas e músicas que encontrei pelo caminho. Eu poderia fazer um top 20 pessoas do meu 2025, mas seria deveras estranho, então vou fazer de álbuns de música novamente. Eu acho um exercício divertido parar para ver o que foi lançado em 2025, tentei fazer uma boa seleção aqui, são músicas pelas quais vale a pena desviar o vento do ventilador para ouvir melhor.
20. Physical Mind - Macaroni Empitsu
Foi uma surpresa agradável que me apareceu semana passada enquanto navegava por uma playlist japonesa. Eu fico me perguntando se as músicas são assim no ao vivo também, se for, deve ser uma experiência incrível ver ao vivo.
19. Males Que Vêm Para o Bem - Maria Classe
Não sei qual é a mágica da Maria, mas a construção melódica dela vicia. Em "Five Days" ela vai do grave atmosférico pro caos num estalo. É pop imprevisível com vibe Sophia Chablau, mas tempero próprio. A tristeza é não morar em SP pra bater ponto nos shows.
18. Who's The Clown? - Audrey Hobert
Basicamente um áudio de WhatsApp de 34 minutos de sua melhor amiga contando as vergonhas que passou no fim de semana. É pop, é deboche divertido, e basta.
17. In Limerence - Jacob Alon
Jacob Alon não precisa de muito pra te prender: só uma voz angelical e um dedilhado de violão absurdo. Parece um veterano do folk no auge dos seus 24 aninhos.
16. True Blue - Casiopea
Se um dia, quando a gente morrer, fossem exibidos os créditos finais com os "melhores momentos" da nossa vida, eu queria que as músicas desse álbum tocassem ao fundo. É um jazz fusion tão chique e técnico que surpreende. Parece trilha de jogo de corrida de fliperama, mas em 4K.
15. Bite Down - Ribbon Skirt
Barulho organizado do jeito certo. O som do Ribbon Skirt tem aquela sujeira boa dos anos 90, mas a produção é cristalina. É impressionante como soa "sem esforço", como se soasse legal sem tentar ser.
14. Divino - Venere Vai Venus
Rock pra cantar gritando no chuveiro usando o frasco de shampoo como microfone. Essa banda tem MUITO futuro.
13. Die in Love - Greet Death
Shoegaze pra quem acha que a vida tá passando rápido demais e quer frear bruscamente. É pesado, é lento, é triste e é maravilhoso.
12. Rarely Do I Dream - Youth Lagoon
Imagina pegar umas fitas velhas da época que você era criança e aí você fazer um álbum, foi isso que o cara fez. Esse álbum tem uma atmosfera incrível. I can't fake my love.
11. Portal - Balu Brigada
Estava eu, encharcado esperando o show dos Twenty One Pilots começar, e aí soube de dois irmãos neozelandeses no palco, e o resto é história. Impossível ouvir sem mexer o ombrinho, é a definição de música "gostosinha".
10. No Rush - Tokyo Tea Room
Como todo fã de Men I Trust, eu escuto um baixo e já fico todo bobo. Ouvir esse álbum com calma e com um bom fone pode definitivamente melhorar seu dia, claro, se você não se importar com a sofrência de algumas letras.
9. Welcome To My Blue Sky - Momma
Você pede uma pizza, quando abre a caixa é simplesmente uma pizza meia grunge, meia shoegaze, com borda de pop.
8. Mortal Primetime - Sunflower Bean
Se o Paul Stanley fosse uma menina de 20 anos, ele amaria esse álbum. Não vou me aprofundar, mas é isso. Me identifiquei mais do que eu gostaria com "Waiting for the Rain".
7. Equus Asinus - Men I Trust
A trilha sonora perfeita para as minhas plantas fazerem fotossíntese. O baixo é tão macio que parece um travesseiro da NASA. Perfeito pra colocar no fone e fingir que sua vida é calma e organizada, mesmo que o mundo esteja pegando fogo lá fora.
6. Sinister Grift - Panda Bear
Sabe quando você tá na praia, tá um sol lindo, mas você tá inexplicavelmente triste? É bizarro e genial na mesma medida. Em "Anywhere but Here", quando começam os trechos em português, se você não se arrepiar, morreu por dentro.
"Nosso dever na vida
Consiste apenas em agir bem
Agir bem, amar bem
Tratar bem
Independentemente do retorno"
5. Patience, Moonbeam - Great Grandpa
Esse álbum é dolorosamente lindo. Um álbum com muito sentimento e produção impecável. O tipo de álbum que vai crescendo a cada vez que você escuta.
4. Nenhuma Estrela - Terno Rei
Trilha sonora perfeita pra ouvir em uma viagem olhando a chuva na janela. Nesse álbum eles largaram um pouco a vibe "praia e sol" e abraçaram a vibe "crise existencial no concreto". Chique e triste na medida certa.
3. The Mocking Stars - Lausse The Cat
É rap pra quem não gosta de rap. Uma produção insana. Tem uma vibe de mistério, o fato de ninguém saber muito sobre esse artista só deixa tudo mais legal. Acho que é a primeira vez que eu vejo um rap combinar com uma taça de vinho.
2. Varanda dos Palpites - Joaquim
Parece que o Joaquim te convidou pra tomar um café na sala dele, sentou no chão e começou a contar uns segredos. É tão íntimo que você se sente meio intruso ouvindo, mas é tão bonito que você não consegue sair.
1. Breach - Twenty One Pilots
A sensação é de terminar uma série de 10 temporadas. Sabe aquele alívio misturado com saudade? É isso. Tyler aparentemente andou investigando minha vida e resolveu escrever algumas músicas sobre meu ano, e o Josh tá espancando a bateria como se ela devesse dinheiro pra ele. É o som oficial de "estamos sobrevivendo à depressão".
Menções Honrosas
Teago Oliveira - Canções do Velho Mundo
Eu amo o jeito que o teago escreve, quem gosta de maglore tem que ouvir
Afeto e Outros Esportes de Contato - Bella e o Olmo da Bruxa
Indie fofinha por fora, mas que chega dando uma voadora no peito
Baile à la Baiana - Seu Jorge
Aquele groove malandro e vontade de abrir uma latinha.mp3
Getting Killed - Geese
Bom de várias formas, acho que deve tá em toda lista de melhores de 2025 (por mais que essa não seja uma lista dessas)
Cor dos Olhos - Cor dos Olhos
Tipo selvagens a procura de lei, mas com menos rancor e mais amor
Estação Libertade - Vanguart
Agridoce com ótimas letras sobre amadurecimento e liberdade
Quit Quietly - Sunset Rollecoaster
Musiquinhas gostosas e aveludadas
Fim do Mundo - Menores Atos
Intenso e barulhento de um jeito bom
Portals//Polarities - Night Tapes
Imagina plugar um cabo P2 numa luz RGB, esse é o som
Enemies - Magic City Hippies
Pra tomar uma espumenta dentro de uma piscina de bolinha