Faz tempo que não paro para escrever, e confesso que só encontro esse impulso nas semanas mais complicadas. Talvez isso não gere textos bons, mas hoje preciso desabafar sobre algo que tem tomado minha cabeça: a sensação de que o trem já partiu.

Essa sensação me persegue constantemente. Não é melancolia ou drama, é o reconhecimento cru de que o tempo tem sua própria agenda, e ela raramente coincide com a nossa. Dez anos se passaram desde 2015, e eu ainda me sinto como se tivesse acabado de acordar de uma soneca.

Ao meu redor, vejo pessoas que já pegaram seus trens e já chegaram (ou estão chegando) a destinos incríveis: construindo, avançando, celebrando marcos que eu nem sabia que existiam. Casamentos, casas próprias, carreiras consolidadas, filhos, viagens, conquistas espetaculares, mudanças para belas cidades. Tudo acontecendo enquanto eu ainda procurava meu bilhete.

A verdade inconveniente é que na vida adulta não existe uma estação de espera ou uma sala VIP para você descansar. O tempo não pausa para que nos organizemos, nem reduz a velocidade para que alcancemos o vagão em movimento. E as redes sociais se encarregam de nos lembrar disso diariamente, exibindo um desfile infinito de vagões repletos de pessoas que parecem ter decifrado o código que ainda estou tentando entender, dançando uma dança cujo ritmo ainda não consegui pegar.

Acredito que não existe um cronômetro universal marcando quando devemos atingir cada marco. O trem que eu vejo partir pode não ser o meu trem. Talvez minha jornada tenha um horário diferente, uma rota própria, destinos que ainda não consigo enxergar.

O tempo vai passar de qualquer forma. A escolha que me resta é decidir como vou me relacionar com essa viagem: ficar ansioso na plataforma, lamentar por um trem que já partiu, ou caminhar no meu próprio ritmo, atento às oportunidades que aparecem no trajeto.

Porque, no final, todos estamos na mesma jornada temporal. Alguns apenas fizeram as pazes com seu próprio compasso. E talvez a beleza esteja justamente nisso: descobrir que existem infinitos trens, e o meu ainda pode estar chegando, talvez até com uma vista melhor da janela.